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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O carcere da emoção.

Escrever sobre qualquer coisa, sobre o homem infeliz que mora ao lado ou no centro de meu coração, praguejando contra o vazio ele está sozinho na madrugada esperando o sol raiar pois acredita que com o dia os fantasmas irão embora, acorda cedo o infeliz homem, não sabe viver e já tem trinta anos, ou melhor foi desaprendendo a viver, foi criando regras falsas, foi estreitando cada vez mais o seu mundo até quase não sobrar espaço nenhum, e de lá, de dentro de seu pequeno chiqueiro, ele geme em silencio na esperança de que um ser invisível veja a sua agonia de encarcerado, mas não ouve respostas, não escuta palavras de consolo, há apenas o silencio e a liberdade para fazer o mal o resto é disciplina.

Ele está preso dentro de si mesmo e não sabe como sair, é como se ele fosse o prisioneiro e o carcereiro ao mesmo tempo e os dois não entram em acordo, ele esqueceu o que é a dignidade humana, ele se prostitui, ele se vende para escapar a solidão, não há inimigo se não ele mesmo, e por constatar que é um elemento ruim, quando na realidade não é, mas pode ser, ele quer se punir, ele quer se destruir e é só o que aprendeu a fazer dentro de seu pequeno chiqueiro, de seu cubículo de onde observa  a vida. É como se fosse um passarinho preso dentro de uma gaiola que depois de alguns anos está tão acostumado a gaiola, que por mais que deixem a porta aberta ele não quer sair mais, e se sai acaba sempre voltando para a gaiola.
Escrever livremente, escrever sobre o que se conhece, falar de si, nunca falar dos outros, mas falar apenas de si, tentando enxergar a realidade com os olhos do que está escrito, sentido talvez não tenha, mas é uma forma de se manifestar o que já é manifesto na própria pessoa que escreve, é uma forma de dizer que se tem consciência do que se é, pelo menos em parte, pois a vista é míope, a vista é embaçada, não há verdade em quase nada do que é dito, não uma verdade que valha a pena ser dita, mas continuamos a dizer, e a afirmar o frio que sentimos do lado de cá do grande muro que nos separa da civilização. Não podemos mais confiar nem em nós mesmos, precisamos de guias, somos cegos, eu e eu mesmo, temos pernas, temos braços, temos olhos, temos uma boca que fala, temos uma cabeça que pensa que pensa, mas que só sabe de si mesmo e não sabe nada de si mesmo.

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