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domingo, 20 de novembro de 2011

FOME


Estou faminto, há três dias que não como nada, hoje em dia fica cada vez mais difícil conseguir comida, as crianças choram, sentem a barriga roncar, sentem a barriga doer, estamos todos fracos, não saímos de nossas redes, a mulher prepara num fogareiro uma panela de chá de capim santo, é tudo o que nosso quintal produz. Os mercantis estão em quarentena cercados de soldados para evitar o saques, já faz tempo que não chega uma remessa de alimento de parte alguma, e nessa cidade de terra calcificada, não há como se plantar. 
As crianças continuam a chorar, acho que uma está perto de morrer pois parou os gritos de fome e se recolhe resignada em sua rede com o buxo estufado de agua, não há o que fazer. Levanto-me já com certo desespero, mentalmente peço a Deus que nos arranje um pouco de comida, não aguentamos mais, falo em minha oração silenciosa.
De súbito vejo um anjo de luz descer em meio a nossa sala, e ele diz: Suas suplicas foram atendidas, aqui está uma cesta mandada diretamente de Deus para você e sua família. 
Não consigo me conter de alegria e desejo por aquela cesta, era uma cesta grande cheia de comida, arroz cozido, peixe frito, feijão também cozido, carne assada, e grito levanta pessoal que hoje agente come que nem gente. O anjo de luz deixou a cesta e saiu voando para o céu, fui levantar os meninos, mas estavam todos calados e dormindo, olho para a mulher e digo: 
- Acorda os menino pra comer, o anjo deixou comida aqui pra todo mundo.
Mas a mulher não me dá atenção, eu já com raiva vou até ela e quando a puxo pelos ombros ela começa a se despedaçar como se fosse feita de cera, tomo um susto e me vem uma vontade de gritar, mas me seguro, quando me volto para a cesta eu via só um bocado de porcaria cheia de barata em cima, toda aquela comida estava podre.
Desperto do pesadelo suado e chorando com os gritos da mulher dizendo que o menino tinha morrido de fome, de fome ela dizia: de fome o menino morreu de fome...de fome o menino morreu de fome...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Trafegando pelas ruas


As ruas estão cheias de barreiras, vejo carros que passam em alta velocidade com seus faróis acesos e arrogantes, vejo de onde me encontro, no meu cadenciado andar, as coisas ao meu redor pelas lentes de meus óculos de grau, às vezes fica difícil ver tudo o que passa na minha frente, as pessoas andam sozinhas, as pessoas andam em pares, as pessoas andam em trios e às vezes tomam toda a calçada. Gostaria de conhecer todas elas e ao passar cumprimentá-las como se fossemos velhos amigos, gostaria de em uma dessas caminhadas, encontrar uma bela mulher em seu traje de academia e sorrir para ela, gostaria que ela sorrisse para mim e que nesse inédito encontro olhássemos um para outro e sentíssemos confiança o suficiente para demonstrar como estávamos atraídos sem mesmo nos conhecermos. Ela me diz que sempre me vê passar por ali e que sempre teve vontade de saber o meu nome e de me conhecer, digo a mesma coisa, que sempre a vejo e que me encanta a sua beleza, ela ri... Trocamos telefones e prometemos telefonar um para o outro e marcar alguma coisa.
Continuo a andar nesse mundo maravilhoso, como é bom andar pelas ruas, principalmente por essa avenida, há tantas coisas para se ver, pessoas comemorando em diversos restaurantes, estacionando seus carros nas calçadas e impedindo aos pedestres de andar por elas, forçando-os a arriscar a vida trafegando pela pista onde os carros parecem não ter freio e não notar que nós pedestres somos mais frágeis do que suas possantes maquinas, e que se por acaso eles colidirem conosco vão transformar um ser vivo da sua mesma natureza em algo disforme estirado no asfalto.
Acendo um cigarro, o percurso é de três quilômetros, às vezes penso na possibilidade de no meio do trajeto, bandidos me assaltarem, mas isso nunca aconteceu, por isso continuo fazendo esse passeio pelo mundo.