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quinta-feira, 31 de maio de 2012

A ADICÇÃO NÃO TEM CURA, MAS TEM TRATAMENTO.






Pelo que me lembro, naquele dia saí de casa meio preocupado comigo mesmo pela falta de controle que eu tinha em relação ao álcool, quando eu começava a beber não sabia mais parar e nunca sabia no que ia dar, estava comentando isso com um amigo meu dizendo que pior não podia ficar, mal sabia eu que sempre pode ficar pior, estava claro já naquela época que eu tinha problema com drogas, nesse mesmo dia em que conversava com meu amigo, passou por nós um caminhão e nesse caminhão estava outro amigo que vinha com as tralhas de sua barraca de bebidas que ele montava na vaquejada, e chamou-me para auxiliar-lhe na descida das coisas do caminhão dizendo que pagava um litro de cachaça depois do serviço. Apesar de estar no estado em que estava, que podia se dizer que era de ressaca moral e já comentando que minha vida não estava muito boa por causa do álcool, mesmo assim aceitei a proposta, coloquei a bicicleta em cima da carroceria do caminhão e fui ajudar meu amigo a descer suas coisas, depois fomos beber a cachaça.
Lembro-me muito bem que comecei a beber comportadamente, e que ia tudo normal até a chegada à mesa de uma pessoa que eu não sabia e não sei até hoje quem era, ele apostou comigo quem de nós bebia mais cachaça, aceitei a aposta, quem ganhasse pagava um litro de cana para o outro, tudo começou ai, depois que bebi todo o litro em questão de minutos, sai do ar, ficou apenas o monstro do Daniel acordado, eram umas sete horas da noite pelo que me lembro, havia muitas pessoas na rua ainda, mas sem se importar com isso comecei a urinar na frente das pessoas no meio da rua, depois briguei com um mau elemento que estava no bar, mas naquela hora o sujeito mais "mau elemento" que tinha nas redondezas era eu mesmo, o meu amigo que me convidara para beber com ele já não sabia o que fazer, pensaram em chamar a policia, depois pensaram em me amarrar, jogar em cima de uma carroça e me levar para casa nessas condições, por fim decidiram chamar meu pai. Não me lembro de nada do que aconteceu, o que narro para vocês é o que me contaram depois de algum tempo. Meu pai chegou, desceu do carro e vendo meu estado demoníaco foi logo me dando uns murros, coisa que dificilmente ele faria se eu estivesse sóbrio. Segurei meu pai pelas bitacas e nós dois caímos no chão, apartaram a briga, e depois meu amigos e mais uns conhecidos ajudaram meu pai a me colocarem dentro do carro e me levaram para o hospital, segundo me contam cheguei lá ainda falando, mas não me lembro de nada.
No outro dia acordo no hospital totalmente ignorante do que havia acontecido na noite anterior, lembro que meu pai chegou lá cinco horas da manhã, a hora em que acordei, me ajudou a levantar, pois ainda me sentia bêbado, e me levou até em casa, lá chegando ao entrar no meu quarto, vejo uma bolsa com minhas roupas dentro, meu pai decidira que não era mais possível eu continuar morando com ele no Brejo Santo naquelas condições, então no mesmo dia viajou comigo para fortaleza, só deu tempo de pegar a bolsa e pegamos a estrada, no caminho eu ia lhe perguntando o que havia acontecido, dizendo que estava com os queixos doendo, ele não queria falar no assunto, disse apenas que era melhor eu ir para fortaleza, pois no brejo a exposição era muito grande, eu estava de acordo com ele, não podia prometer que aquilo não se repetiria novamente, pois sabia que mais cedo ou mais tarde eu voltaria a beber e com certeza ia chegar o dia em que a cena iria se repetir.
Realmente eu não sabia mais o que fazer, eu sofria muito quando estava de cara, eu precisava estar bebendo constantemente para sentir um pouco de alegria e nem sempre conseguia a alegria desejada, fumava maconha todos os dias, fumava tanto que fumar já não dava tanto prazer como dava no começo, eu era totalmente antissocial, não sabia mais conversar e tinha medo das pessoas. Certa vez minha irmã me chamou para ir a um restaurante bastante conhecido em fortaleza, e fazia tanto tempo que eu não frequentava um lugar tão sofisticado que comecei a me sentir mal, eu estava acostumado a favelas e a terrenos baldios na beira da lagoa, meus programas era virar a noite em uma calçada tomando cachaça e fumando um baseado, e nesse dia todos na mesa estavam conversando e eu não conseguia conversar com ninguém, acho que eu tinha uns catorze anos ou dezesseis, não lembro ao certo, então um amigo da minha irmã começou em tom de brincadeira a dizer que eu estava falando muito, tirando onda com a minha cara, não consegui nem responder, minha irmã teve que responder por mim dizendo “Ele é introspectivo...”, dei graças a Deus quando aquela tortura acabou, para mim era tortura tudo o que remetesse a coisas saudáveis, não conseguia sair com minha família, tinha perdido todo o contato com o mundo chamado careta, e me afogava em desespero e auto-isolamento, eu era assim no colégio, em lugares ditos sociais, como ônibus e shoppings, e em festas familiares, não tinha mais namoradas, havia desaprendido a chegar junto das meninas, de repente me via em uma gélida solidão que doía no peito, a depressão tomava conta de mim e de tempos em tempos eu enlouquecia e fazia alguma besteira, como brigas e vandalismo.  

2 comentários:

  1. Não foi aos quatorze não,nessa época eu te conheci,vc bebia,mas nunca tinha visto vc chapadão não.Que foda cara,sei la.Acho que vc merecia ter sido acolhido nessa época por sua família,mas sei que isso é difícil.Vc é um vencedor e sua vida começa agora.

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  2. Daniel, bacana teu depoimento, li todo. Eu publiquei uma foto de seu blog para ilustrar um artigo sobre Adicção, eu ficaria muito grato e se vc tb pudesse deixar um comentário no meu artigo. www.andresouzaescreve.blogspot.com.br . TMJ.

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